domingo, 23 de junho de 2013

MANUTENÇÕES - PARTE 1

Desde abril, quando trouxe o barco de Angra pra Niterói, tenho tentado ir ao clube pelo menos 1 vez por semana, mesmo que tenha que ser de noite, após o trabalho. A lista de afazeres é extensa e quase sempre que meto a mão pra fazer alguma coisa, sempre aparecem pequenas complicações que aumentam e atrasam o trabalho. Foi o caso da troca da bomba de porão e limpeza do poceto. Descobri uma válvula de retorno velha no meio do circuito. Pra retirá-la, acabei tendo que trocar a mangueira etc.


Os instrumentos, em foto na época em que estava comprando o barco.

Hoje vou escrever um pouco sobre os eletrônicos e o desfecho positivo da operação de salvamento dos aparelhos.

Quando comprei o barco, os displays sequer acendiam. Eu não sabia se era somente um problema elétrico, se os aparelhos estavam queimados, ou mesmo se estavam devidamente instalados. Depois que superasse essa etapa, ainda seria necessário verificar se as informações chegavam corretamente dos sensores.

MYSTIC, já sem os instrumentos no painel sobre a cabine
Como na época eu não dispunha de tanto tempo assim e haviam outras prioridades, contratei um profissional que, apesar de eletrônica não ser seu forte, tinha bastante experiência com barcos e seus sistemas. O diagnóstico foi o pior possível: todos os displays estavam condenados. Sem alternativa, pedi então que desinstalasse a traquitana toda e guardei os displays.

Os instrumentos acenderam, mas ...
 O tempo passou e a falta de uma sonda me incomodava profundamente, além de, a cada vez que olhava para aqueles displays no fundo do armário, sempre desconfiar que eles tinham solução e que sua retirada fora precipitada.

Na semana passada resolvi ir para o barco testar os aparelhos e acabar de uma vez por todas com minha inquietude. Com um multímetro, confirmei que chegava energia normalmente no painel externo, onde os displays estavam instalados, apesar dos pinos do conector estarem bastante oxidados. Na sequência, saí desmontando os acabamentos do teto da cabine, fuçando os paineiros etc e percorri todo o caminho desde os sensores até o dito painel. Os cabos estavam em bom estado e íntegros, além de não haver problema em suas conexões com os sensores, pelo fato de não haver conectores ali. O cerco estava se fechando.

... ainda sem marcar dados
Sem fazer qualquer limpeza, espetei o conector da sonda e para minha alegria, ele acendeu. Conclusão: o cara não testou porcaria nenhuma! Conectei os demais displays (wind e speed) e vi, pela primeira vez, os eletrônicos do MYSTIC funcionando, ainda que sem marcar qualquer informação. Fazê-los funcionar seria uma questão de tempo - eu pensei, apesar de restar a dúvida se os sensores estavam funcionando.

O próximo passo foi desmontar o painel e acessar os cabos lógicos (cabos que vem dos sensores). Já na semana seguinte a que comecei o trabalho e armado de um spray limpa contato, procurei fazer uma limpeza minuciosa dos conectores, bem como recuperar um ou outro que aparentavam estar com os pinos tortos. O grande momento enfim chegara: era hora de conectar tudo e ver se funcionavam.

A conexão foi um capítulo à parte: sem manual e com uma penca de cabos, quase todos iguais, como ligar sem errar? E se ligasse errado, queimaria os displays ou algum sensor? Na verdade, as ligações foram meio óbvias, pois quando segui os cabos, eu marquei qual era pra quê. Somente as ligações elétricas entre cada display requereu um pouco mais de atenção.


O sensor do wind, no tope do mastro
OK! Tudo ligado, era hora de testar! Energia ligada, os instrumentos funcionaram, para minha enorme alegria. Mas alguns minutos depois, as informações vindas dos sensores começaram a apresentar intermitência na marcação, ou seja, a sonda hora marcava corretamente, ora marcava uma profundidade louca. O wind marcava a direção do vento, mas não sua velocidade e o speed não poderia marcar nada mesmo, pois o sensor estava fora do casco.

A noite de trabalho se encerrou sem que eu conseguisse resolver o problema. Mesmo após desmontar tudo e limpar novamente os conectores e remontar novamente, desta vez no painel onde ficam, as informação continuaram truncadas. Fui pra casa com uma pontinha de frustração. O que poderia ser?



Tudo funcionando, mas com marcações irreais

Ontem estive novamente no barco para subir no mastro e trocar a lâmpada do tope por LED e para tirar a biruta, que estava quebrada. Antes de começar a preparar a faina, liguei os eletrônicos e, para minha surpresa, eles funcionaram normalmente. Enquanto preparava a faina para subir, deixei tudo ligado, para verificar se o problema do meio de semana se repetiria. Para minha alegria, tudo funcionava. Quando eu ia subir no mastro, entrou um vento SW de uma pre-frontal que acabou por suspender minha faina, pois o barco balançava muito. Pelo menos foi bom para verificar que o wind parece ter ficado bom de vez. Ainda que com as unidades métricas desconfiguradas (estava em m/s, ao invés de nós), o aparelhinho marcou honestamente a velocidade e direção - 12 m/s, ou aproximadamente 24 nós. Com a tarde perdida mesmo, terminei de montar o painel e fui pra casa.



Mais uma vez, a lição que tiro disso tudo é a questão da falta de mão de obra especializada. Enquanto confiei no trabalho de um profissional, fiquei praticamente 2 anos sem os instrumentos. Com um pouco de estudo, paciência e crença de que tudo poderia dar certo, tive, eu mesmo, que meter a mão na massa e resolver o problema. Felizmente com um final feliz. Mais uma etapa cumprida e que venham as próximas.


Bons Ventos,



sábado, 15 de junho de 2013

HOTEL 5 ESTRELAS

Final da semana passada foi de folga nas atividades no MYSTIC. Fomos pra Angra curtir um passeio a bordo do Caulimaram, do meu amigo de sempre, Ulisses e sua esposa, Marcela.

O Caulimaram
No início do ano, o Ulisses trocou seu Velamar 33 - o Coronado por um Samoa 36 - projeto do renomado projetista/cruzeirista brasileiro Roberto "Cabinho" Barros e (muito bem) construído pelo Manolo. Desde então, o Ulisses e a Marcela vinham insistindo para curtirmos um final de semana com eles.

Como sempre fazemos quando o MYSTIC está em Angra, partimos pra lá no sábado de manhã. A programação era zarpar da marina do Condomínio Portogalo logo após o almoço, dar uma velejada pela parte leste da Baía da Ilha Grande, pernoitar na praia da Crena, na Enseada do Abraão e retornar no dia seguinte de manhã, após o café.

Eu já havia visto o Caulimaram quando fizemos juntos a travessia Angra x Rio do MYSTIC, em abril, mas mesmo assim, ao chegar no cais, fiquei impressionado com o porte do barco e seu bom estado. E era só o começo! O barco é completo! Roda de leme com um baita pilotão automático, estação de vento, ecobatímetro, conversor 12V x 110V, geladeira elétrica, TV (com antena externa), sanitário elétrico, guincho elétrico, 650  litros de água, boiler para banho quente e muito mais. Um verdadeiro hotel 5 estrelas.

Além de nós, também foram convidados para o passeio o Henrique e sua esposa, Luciana. Quando chegamos, eles já nos aguardavam a bordo. Enquanto o Ulisses e o Henrique trocavam as luminárias do barco por LEDs, eu fiquei brincando com o Gustavo no cockpit. É enorme minha felicidade ao ver que meu pequeno está plenamente adaptado à vida a bordo e já se desloca com desenvoltura pra lá e pra cá.

Já era hora do almoço e como a fome já estava falando mais alto, a Marcela preparou um prático macarrão com atum com molho de tomate que nos deu uma bela forrada no estômago.

Saímos da marina sob uma fraca brisa, de não muito mais que 8 nós, mas que ainda assim empurrava o Caulimaram, com suas 8 toneladas, a honestos 4,5 nós, num contravento folgado. Muito bom!!! Velejamos tranquilamente durante algumas horas até as proximidades da Enseada do Abraão. Ali o vento morreu de vez e não tivemos outro jeito senão terminar de chegar a motor. Nosso destino final foi a praia da Crena, na extremidade esquerda da Vila do Abraão, pra quem olha do mar.

Destino Ilha Grande
A praia da Crena fica no fundo de uma pequena enseada e, na minha opinião, é o lugar mais tranquilo do Abraão para fundeio e pernoite. Na sequência, baixamos o bote e remamos até a praia da Julia, onde o deixamos e seguimos a pé até a Vila, para comprar umas cervejas e outras coisas para o jantar e café da manhã do dia seguinte.

Tripulação reunida
A noite caiu e retornamos para o barco sob um céu parcialmente estrelado. Para o jantar as meninas prepararam pizza de frigideira e em seguida, para completar a noite, abrimos um vinho e comemos alguns tira-gosto. A temperatura estava extremamente agradável e eu resolvi dormir no cockpit, não por falta de cama, pois eu, Renata e o Gustavo ficamos alojados na cabine de popa, com sua enorme cama, para os padrões de um barco. Durante a noite ainda caiu uma leve chuva que deu um ar ainda mais preguiçoso a nossa estadia. Da proteção do dog-house emendado ao bímini eu ficava contemplando o som da chuva na água daquele recanto. Dormi...

O domingo amanheceu com o sol realçando a beleza do mar naquele pedaço de paraíso. A chuva da noite ajudou a realçar o verde da mata e deu um tom esvoaçado sobre a Vila. São cenários como esse que aliviam nosso estresse do dia a dia e que nos fazem acreditar que vale a pena preservar a natureza. A paz sentida nesses momentos quase sempre compensam o esforço para estar ali.

Vila do Abraão, vista de bordo
As horas avançavam e um compromisso em casa, para a hora do almoço nos obrigou a suspender logo após o café da manhã. Ainda não havia vento quando recolhemos a âncora do Caulimaram e, assim, fomos navegando num ritmo preguiçoso a motor mesmo, contemplando as belezas da região e com nossa proa apontada de volta para a marina Portogalo.

Nos despedimos de nossos amigos renovando promessas de um novo passeio, de preferência num dia com bastante vento, para podermos extrair todo o potencial que o Samoa 36 pode oferecer na vela. Retornamos para Niterói com a alma e as forças renovadas, com muitas imagens bonitas povoando nossas mentes, até que o passar do tempo as apague. Aí saberemos que é hora de voltar para mais um passeio no paraíso.


Bons Ventos.

Curiosidade...

Na hora do almoço

Explorando a enseada da Crena

"Olha o peixe, papai!!!"

Entrar e sair da cabine não foi problema

Vento fraquinho, fraquinho

Que onda, hein?!!!

Ulisses e Marcela - os anfitriões

"Posso "puxar", papai?"

domingo, 2 de junho de 2013

UMA LISTA INTERMINÁVEL

E aí, pessoal? Beleza?

Imagine o seguinte:

- Hoje vou para o barco limpar o poceto...

Até aí, tudo bem, pois trata-se de uma tarefa bastante simples e rápida de ser executada. Então você entra no seu barco e, munido de balde, esponja e um detergente, levanta a tampa do paineiro. A primeira visão não é das melhores. Seu porão está com bastante água, quando você descobre que sua gaxeta está vazando.

- Ora, isso é mole! É só apertar o porta gaxeta! - Você pensa.

Continuando a faina, a melhor maneira de dar uma esvaziada no porão é ligando a bomba. Ao acionar o botão, você percebe que sua bomba está cuspindo água igual a um chafariz. Não lhe resta outra alternativa senão secar o porão com a esponja e um pano mesmo. Lá pelas tantas da faina, você nota que aquela mangueirinha do ralo do banheiro está entupida e por isso fica sempre um "choro" de água escorrendo por baixo dos paineiros...

Bem, a história acima é pura ficção e serve somente para ilustrar que uma simples manutenção pode resultar numa lista de afazeres sem fim. No nosso exemplo, a limpeza virou na seguinte lista de tarefas:

- Limpeza do poceto (a tarefa original);
- troca da bomba de porão;
- troca da gaxeta;
- desentupir o ralo do banheiro; e
- limpar o porão, abaixo dos paineiros.

O compressor da geladeira
Podem acreditar, lá no MYSTIC é a mesma coisa. Mais! Sou capaz de apostar que no barco de todo mundo é assim. Tem sempre alguma coisinha aparecendo pra fazer!

Quando trouxe o barco de Angra, no mês passado, já tinha uma pré-lista em mente e que só está aumentando. Hoje pretendo:

- Fazer a limpeza do porão do barco;
- Ressuscitar a geladeira, que desde quando comprei o barco, não funciona;
- Reorganizar as baterias sob a cama de popa, para caber uma segunda bateria de serviço;
- Limpar a caixa d'água,
- Eliminar os vazamentos de água em algumas gaiutas;
- Ressuscitar os eletrônicos do barco (Tridata), que assim como a geladeira, nunca funcionaram;
- Trocar o registro do esgoto da pia da cozinha, que parou de funcionar;
- Trocar a gaxeta;
- Consertar a biruta, no topo do mastro;
- Revisão da capa da mestra (lazy jack)
- Eliminar um micro furo na mangueira do escapamento;
- Criação de um sistema para manter a mesa da cabine rebatível;
- Otimizar o sistema de burro da mestra; e
- Reorganizar o sistema de rizo da mestra.

O registro da pia não veda mais nada
Desde que o barco chegou a Niterói, alguns itens da lista já foram cumpridos. Outros já foram iniciados e os demais ainda nem sei por onde começar. 

O porão do barco já foi limpo, incluindo a troca da bomba por outra mais potente, troca da válvula de retorno e desengripameto do automático. As baterias já foram reorganizadas, só faltando comprar uma nova. O micro furo também já foi consertado, assim como a capa da mestra já retornou da Cognac Velas. O Luciano Guerra (veleiro Araiti), que tem me dado uma força enorme nessa faina sem fim, já trocou e regulou a gaxeta.

A geladeira será um capítulo a parte. Ela já foi testada e o compressor funcionou, mas descobri que um dos tubos de gás está rompido. A instalação elétrica da geladeira terá de ser refeita, assim como o termostato, hoje podre, terá de ser trocado.

Algumas gaiutas já tiveram sua borracha trocada, mas não toquei ainda nas do teto da cabine. Já a mesa da cabine foi retirada, restando desmontá-la e remodelá-la. Já estudei o sistema do burro e já sei o que vou fazer, mas falta comprar um moitão.

O que essa biruta tem, ...
... que essa biruta não tem?

Bem, ainda há muito o que fazer e o tempo urge! Minha meta inicial era retornar com o barco pra Angra na segunda quinzena de julho, mas tenho dúvidas se conseguirei. Vamos ver...



Bons Ventos!