sexta-feira, 17 de outubro de 2014

EU ODEIO MURPHY!!!!

Já fazia muito tempo que planejávamos levar a prima da minha esposa (e madrinha do meu filhote) e seu marido para um final de semana conosco, a bordo do MYSTIC. A agenda concorrida da Aninha e a pouca intimidade do Márcio com o mar sempre acabavam adiando o passeio.

O último final de semana foi meticulosamente planejado para tudo dar certo e eles vivenciarem uma experiência única.

... e de fato foi uma experiência única!

Durante toda a semana, a previsão para a região de Angra era de sol e temperatura na medida certa: nem muito calor, nem muito frio. Idealizei uma programação bem simples e não muito distante do clube, pois caso o Márcio não ficasse à vontade, poderíamos voltar rapidamente e ficar somente no cais, curtindo piscina etc e utilizando o barco somente para dormir.

Chegamos todos em Angra no sábado de manhã bem cedo e a primeira surpresa foi que o barco estava imundo, fruto de 2 meses e meio de ausência minha por aquelas bandas. Logo o passeio deu lugar a uma pequena faina para dar todo o conforto ao grupo: eu e o Márcio lavando o convés e a Renata e a Aninha dando uma ajeitada na cabine.

Zarpamos ainda de manhã, com um lindo sol, temperatura agradável e nem uma gota de vento. Nosso primeiro destino foram as Ilhas Botinas, onde queria que eles tivessem o primeiro contato com aquele mar transparente e cheio de peixinhos, em meio ao visual da ilha.

Chegamos com uma brisa muito leve de sei lá qual vento (estava muito fraco e extremamente gostoso) e logo posicionei o barco pra largar a âncora. Ao dar o sinal para a Renata fundear, ela percebeu que o cabo estava mal aduchado na caixa de âncora e por esse motivo, acabei tendo que sair dali e ficar ao largo enquanto ajeitava tudo. 10 minutos depois já estávamos soltando amarras no mesmo canto escolhido, agora já com um ventinho fresco. Só sei que não deu tempo nem de pegar as boias para desembarcar. Entrou uma porranca de SW que foi todo mundo embora. Ainda perguntei se alguém queria dar um mergulho e a Aninha até foi lá molhar o pé pra ver se animava: a água estava gelada!

- Bem,... - pensei comigo. Não acredito que Murphy está aqui!

Debaixo de todo aquele vento, não havia mais nada a fazer ali. Vi que o Márcio estava tranquilo e descontraído e sentenciei.

- Vamos para a segunda parada! Lá podemos fundear atrás da ilha onde não haverá vento. - falei me referindo à Lagoa Verde.

Durante o trajeto, o vento devia estar na faixa de uns 30 nós nas rajadas e as marolas cresceram desconfortavelmente. Em algumas oportunidades nossos convidados puderam ter a oportunidade de curtir em suas costas aquelas respingadas de água gelada, quando o mar lavava o convés do MYSTIC. Como o passeio estava ficando sem graça, propus irmos direto para a Praia da Tapera, no Sítio Forte. Lá é um local abrigado do SW, embora este desça de cima do morro, formando um venturi que te empurra pra fora da enseada.

Amarramos o barco a uma poita, no restaurante da Telma na hora do almoço. A tripulação já estava ávida para desembarcar e curtir a praia, mas eu, preocupado com o vento, estava receoso de deixar o MYSTIC ali, sozinho. Tinha também a preocupação da turma toda no botinho inflável, com todo aquele vento. Caso o motorzinho falhasse, não haveria remo que conseguisse vencer aquela "ventaralha". Bem, relaxei, inflei o bote, coloquei-o na água e instalei o motorzinho de popa. Puxei a cordinha de partida, puxei a segunda vez, a terceira, ... a décima e o desgraçado nem dava sinal de vida. O mais revoltante é que eu havia dado uma revisão geral no motor semanas antes e dois dias antes da viagem, botei-o pra funcionar, exatamente para não correr o risco de acontecer o que estava acontecendo. Nem preciso escrever aqui meu arsenal de xingamentos que recitei a plenos pulmões, em pleno Sítio Forte. Renovei minha promessa de jogar aquela porcaria no lixo quando retornasse pra casa e voltei pro barco.

Não sendo prudente o desembarque naquelas condições, resolvemos fazer uma macarronada a bordo. Comida pronta e servida, todos de prato na mão, a Renata me entrega a panela e me pede pra botar um pouco de água do mar para ir soltando os restos de comida grudada. Olhei o recipiente e vi que ainda tinha uns restos de carne moída no fundo da panela. Guloso e "olhudo" do jeito que sou, peguei uma colher, raspei a panela e botei a gororoba no meu prato. Ainda deu pra dar mais uma raspada e encher outra colher que prontamente meti na boca Veio aquele gosto meio ácido, meio cítrico, meio sei lá o quê e cuspi o "veneno" na hora, já quase tendo ânsias de vômito. A panela já estava com detergente dentro e eu não havia percebido. Moral da história? Não comi nada, pois meu prato acabou ficando contaminado até as beiradas.

A boa notícia foi que o vento deu uma diminuída um tempo depois e tratamos logo de ir pra praia. Pedi uma cerveja e uma porção de Lula à Dorê lá na Telma e assim curtimos a tarde toda. Ainda dei umas boas risadas com as vídeo cacetadas do Márcio andando no stand up que levamos.

A noite chegou e retornamos para o MYSTIC para um merecido banho e para jantarmos as pizzas que levamos. Com muitas luzes acesas e a bomba d'água funcionando direto, lá pelas tantas resolvi dar uma ligada no motor para carregar um pouco as baterias. Virei a chave algumas vezes e nada. Quando a bateria começou a dar sinais de fraqueza, lembrei que fazia um bom tempo que não abastecia diesel no barco, o que não era problema, pois eu tinha uma bombona no paiol. Levei-a para dentro do barco, acomodando sobre a mesa de navegação, pra ficar mais alta que o tanque e assim fazer a transferência. Ao assoprar a boca da bombona, começou a gritaria:

- O diesel tá vazando! O diesel tá vazando!

Parei de assoprar, mas o combustível não parou de vazar. Quando levantei a bombona, percebi que ela havia arrebentado por baixo. Do jeito que deu, consegui com dois baldes salvar o que sobrou, mas o estrago já estava feito. Um estofado, o chão da cabine e a mesa de navegação ficaram completamente cagados de óleo. Os documentos dentro da mesa de navegação nadavam pra lá e pra cá ao sabor do balanço do barco.

Bem, após umas boas duas horas limpando o que dava pra limpar, fui para o cockpit pra fazer nova tentativa de virar a máquina, afinal deu pra abastecer uns 10 litros do que consegui salvar do derramamento. Nada! Comuniquei à tripulação que no dia seguinte, caso o motor não pegasse de manhã, tentaríamos ir embora cedo, velejando, caso houvesse vento.

Como toda boa Lei de Murphy manda, o domingo amanheceu com um vento generoso... contra! Se vacilássemos na saída, ele nos jogaria na praia da Tapera. Olhei o controlador de carga da bateria e notei que durante a noite, ela havia dado uma recuperada. A placa solar não estava dando muita ajuda naquele momento da manhã porque, claro, Murphy cuidou para que o dia amanhecesse nublado.

Sentei em frente ao painel do motor e ali fiquei, conversando mentalmente e maldizendo o destino...

- Cara, você nunca me deixou na mão. Não é possível que...

De repente olhei para um botão no painel... era um botão que o eletricista que instalou o motor havia colocado ali... nunca teve qualquer serventia, mas quando estava no off, o motor não dava partida. E ele estava no off!!! Provavelmente alguém esbarrou nele e... enfim, mais que depressa liguei o botão e dei partida no motor. Pegou de estalo como sempre.

Apesar de cedo, a manhã já estava meio que perdida, pois a água fria, o vento contra aumentando, o tempo nublado e todo o estresse da noite anterior acabaram desanimando um pouco. Resolvemos, então, partir. Chegaríamos no clube, arrumaríamos o barco com calma, almoçaríamos e então retornaríamos pra casa.

O retorno para o clube foi chato, com vento contra e depois de través, mas que fizemos a motor, até para recarregar as baterias. No clube não havia uma gota de vento, com um calor desgastante, só para coroar a faina de arrumação que tínhamos que fazer. Mas fizemos tudo como planejado.

O final de semana terminou com um último presente do Murphy: pegamos um engarrafamento que há muito tempo não enfrentávamos. Levamos aproximadamente 5 horas para cumprir um percurso que normalmente faço em 2h30, sem pressa.

De qualquer forma, o Márcio e a Aninha juraram que gostaram do passeio e prometeram que haverá uma próxima oportunidade para eu (ou melhor, meu "sócio" - o Murphy) tentar se redimir.

Foi isso.

Bons Ventos e até a próxima.



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