Olá Pessoal,
No dia 22/10 participei, a bordo do veleiro Araiti, do meu amigo - comandante Luciano Guerra, da Regata Angra x Rio.
Estava há tanto tempo afastado das travessias que a expectativa era enorme. Passei a semana, juntamente com o Luciano, analisando as previsões meteorológicas e avaliando a melhor estratégia para não fazermos feio na regata.
Na 5ª feira antes da regata, a tripulação se reuniu, avaliou as previsões e fechou a estratégia. Esperávamos ventos de E constantes, na casa dos 15 a 18 nós, podendo rondar para NE durante a noite e mar de SE com ondas de 2 metros a 2,5 metros durante a travessia. Dependendo de quanto tempo levássemos da linha de largada até a boca da Baía da Ilha Grande, esperávamos pegar maré enchendo com força e, se tudo corresse como estávamos prevendo, chegaríamos na boca da Baía de Guanabara tendo que enfrentar maré vazando forte.
A tripulação era composta pelo comandante Luciano Guerra, eu, o velejador José Andrés Monteldo "Chileno", pelo Marcello e pelo Igor. Uma tripulação heterogênea que, no decorrer da regata, foi o ponto mais forte da regata.
A REGATA
Nós largamos pela lado esquerdo da linha, sob ventos de E na casa dos 15 nós. A estratégia era velejar mais pra dentro da baía até o canto da entrada do canal, junto à Ilha da Marambaia. Dessa forma, esperávamos sentir menos os efeitos da maré no barco, principalmente porque nesse bordo, estaríamos dando a face da quilha para a maré. Quando cambássemos para sair da baía, estaríamos no canto do canal (onde normalmente a maré é mais fraca) e com a quilha de frente pra maré, reduzindo seu efeito.
A estratégia deu certo! No cruzamento com os barcos que foram para o lado da Ilha Grande (bordo da direita), o Araiti - um barco de cruzeiro, pesado e com velas cansadas passou na frente de vários barcos regateiros.
Optamos, então, por velejar não muito perto da Ilha da Marambaia, a fim de fugir do rebojo formadopelas ondas que batem no costão, mas não queríamos nos afastar muito da costa, pois esperávamos uma rondada para NE, que favoreceria quem estivesse mais aterrado.
O fato é que o vento não rondou e pra piorar, foi morrendo, morrendo, até virar uma brisa. Aquilo para o Araiti era tudo que não desejávamos. Nossa velocidade caiu muito e viramos presa fácil para os regateiros. A tocada do barco ficou mais técnica e a velejada mais monótona. De emocionante (ou seria tensão?), naquele momento, foi a aproximação de um navio porta container.
Pra quem já teve a oportunidade de cruzar com esse verdadeiros montros, sabe o risco que um veleiro corre nessas horas, já que muitas vezes o navio não enxerga o veleiro. Como nós estávamos mais ou menos no rumo do monstro, fomos para o rádio tentar avisá-lo da nossa presença ali. Como não obtivemos sucesso na nossa empreitada, restou observar atentamente o movimento do bicho e ficamos preparados para uma manobra evasiva, caso necessário.
Cruzando com o "monstro de aço" |
Bem, passados esses minutos de observação e tensão, a única novidade foi o vento ter ido embora de vez, transformando-se numa brisa fraca e entediante. Estávamos bem na divisa da Restinga da Marambaia e Guaratiba. Ali ficamos velejando, ora pra frente, ora para trás, empurrados pela correnteza que corria contra. Às 11h da noite completamos 12 horas de regata ainda na metade do percurso. Se o vento estivesse generoso e a favor, esse era o tempo previsto para completar a prova inteira... Paciência.
Pra mim, a parte difícil com a redução do vento foi aguentar a saudade do meu filhote, a pressão dos compromissos assumidos para o dia seguinte (domingo) e a monotonia de ficar parado no meio do mar, sacudindo pra lá e pra cá. Aliás, falta de vento e mar mexido é uma combinação fatal pra quem mareia. Dessa vez, não consegui escapar e por duas vezes mandei cargas ao mar.
O domingo veio e com ele uma leve brisa começou a soprar por volta das 10h. Imediatamente o moral (ou seria a esperança?) da tripulação se elevou e todo cansaço da travessia até aquele momento virou disposição para completar a regata. O clima a bordo permanecia ótimo, com muitas brincadeiras e alimento farto.
Após praticamente 12h parados, a brisa que soprava nos ajudou a avançar mais um pouco e assim atravessamos a Barra da Tijuca, quando novamente o vento fraquejou. Entre alguns bordos e muito capricho no velejo, conseguimos chegar em frente à praia de São Conrado, onde o rebojo das ondas refletindo no costão acabou prendendo um pouco o barco. Ainda assim, o clima a bordo permanecia animado, graças à distância cada vez menor do nosso destino.
Nossa regata já contabilizava mais de 24 horas de navegação quando o Leste voltou a soprar, dessa vez com vontade. Imediatamente avaliamos a situação, refizemos a estratégia e demos um bordo para fora da costa, a fim de fugir do rebojo da proximidade do costão do Vidigal, para ganharmos altura, a fim de dobrarmos a ponta do Arpoador e, por que não, passarmos pelo belo arquipélago das Ilhas Cagarras.
Sendo assim, com o vento que desejamos para toda a travessia, rumamos acelerado para o boca da Baía de Guanabara, armados até os dentes para enfrentar nosso último desafio: vencer a forte maré vazante que rolava naquela hora.
A fim de evitar ficar sem vento e desejando aproveitar as ondas que adentravam o canal de entrada da Baía de Guanabara, optamos por deixar a Ilha de Cotunduba por bombordo, fugindo de sua sombra.
Sabíamos que ali pegaríamos mais maré contra, mas com as ondas que estavam rolando e o vento farto, na casa dos 15 nós, a chance de não lograrmos êxito era pequena.
Para loucura do nosso comandante, Luciano, surfamos ondas a até 7,5 nós de velocidade e repidamente nos aproximamos da linha de chegada. Mais precisamente às 17h38 entramos na Baía de Guanabara e cruzamos a linha de chegada. Então, naquele momento, foi só abrirmos as latinhas de cerveja gelada desde Angra e brindarmos o atingimento de nosso objetivo. Sem acidentes, sem discussões, com tudo tendo corrido da melhor maneira possível.
Mais do que termos vencido a regata em nossa categoria, nós vencemos a nossa regata! Vencemos as condições que se apresentaram. O vento e o mar contra. Vencemos minha vontade de ter desistido, depois de 12 horas boiando. Estreitamos laços de amizade que só o mar pode proporcionar.
Enfim, ... velejamos.
Até a próxima!!!
A tripulação morgada |
Após praticamente 12h parados, a brisa que soprava nos ajudou a avançar mais um pouco e assim atravessamos a Barra da Tijuca, quando novamente o vento fraquejou. Entre alguns bordos e muito capricho no velejo, conseguimos chegar em frente à praia de São Conrado, onde o rebojo das ondas refletindo no costão acabou prendendo um pouco o barco. Ainda assim, o clima a bordo permanecia animado, graças à distância cada vez menor do nosso destino.
Nossa regata já contabilizava mais de 24 horas de navegação quando o Leste voltou a soprar, dessa vez com vontade. Imediatamente avaliamos a situação, refizemos a estratégia e demos um bordo para fora da costa, a fim de fugir do rebojo da proximidade do costão do Vidigal, para ganharmos altura, a fim de dobrarmos a ponta do Arpoador e, por que não, passarmos pelo belo arquipélago das Ilhas Cagarras.
Sendo assim, com o vento que desejamos para toda a travessia, rumamos acelerado para o boca da Baía de Guanabara, armados até os dentes para enfrentar nosso último desafio: vencer a forte maré vazante que rolava naquela hora.
Vento generoso de E e nosso destino no visual |
Sabíamos que ali pegaríamos mais maré contra, mas com as ondas que estavam rolando e o vento farto, na casa dos 15 nós, a chance de não lograrmos êxito era pequena.
Para loucura do nosso comandante, Luciano, surfamos ondas a até 7,5 nós de velocidade e repidamente nos aproximamos da linha de chegada. Mais precisamente às 17h38 entramos na Baía de Guanabara e cruzamos a linha de chegada. Então, naquele momento, foi só abrirmos as latinhas de cerveja gelada desde Angra e brindarmos o atingimento de nosso objetivo. Sem acidentes, sem discussões, com tudo tendo corrido da melhor maneira possível.
Mais do que termos vencido a regata em nossa categoria, nós vencemos a nossa regata! Vencemos as condições que se apresentaram. O vento e o mar contra. Vencemos minha vontade de ter desistido, depois de 12 horas boiando. Estreitamos laços de amizade que só o mar pode proporcionar.
Enfim, ... velejamos.
Até a próxima!!!