Sempre que posso, gosto de fazer uma travessia. É bom para fugir do agito do dia a dia, é bom porque numa travessia à vela você tem tempo de refletir sobre tudo e mais um pouco, é bom porque você está em contato íntimo com a natureza, com o mar.
Por outro lado, fazer-se ao mar não é simplesmente pegar o barco e ir. Requer alguma preparação. Requer um barco confiável e uma tripulação capaz de se safar em situações complicadas e, igualmente importante, uma tripulação homogênea. Ter alguém com espírito diferente do seu numa travessia é passaporte certo para problemas num local onde não dá pra encostar e mandar o cara descer.
Eu costumo escolher a dedo as pessoas que entram no meu barco para uma travessia e esse post é uma homenagem especial a um grande amigo - Ulisses Schimmels.
Posso dizer que o cara é casca grossa. Topa qualquer parada, toma decisões bastante coerentes, é tranquilo até demais e nunca me deixou na mão quando precisei. O Ulisses é um cara que sempre gosto de ter a bordo. Tá sempre de bom astral, bom de papo, é altamente responsável e confio nele de olhos fechados.
Vou contar dois "causos" só pra ilustrar como o cara é parceiro:
Numa dessas travessias que fiz com meu ex-barco - o Tuiú Rio (Brasília 27-S), ainda com motor de popa, lá pelas tantas, debaixo de uma lestada nojenta pela proa, precisei transferir gasolina de uma bombona pro tanque do barco. Por um descuido meu, acabei bebendo um golão do combustível. Não deu tempo nem de contar até 10: Devolvi tudo pro mar, mas não sem antes dar a primeira cusparada/golfada no peito do meu dileto camarada. (rs) O cara calmamente perguntou se eu estava bem, me mandou pra cabine, assumiu o comando e junto a outro amigo e navegador - o Eduardo Petersen, tocou o barco até o Rio. Eu realmente fiquei podre e não mais saí da minha cama.
Em outra passagem, estava com o Tuiú em Angra, com o telescópio do eixo totalmente corroído e prestes a estourar. Precisava trazer o barco pro Rio para tirá-lo da água e substituir o tubo telescópico. Sabia que seria uma travessia de risco, pois se o tubo arrebentasse, corria o risco do barco ir para o fundo. Liguei pro cara e expliquei da travessia de risco que seria. Ele topou e partimos pra Angra para preparar o barco para uma eventual emergência. Trouxemos o barco com segurança e sem sobressaltos. Mais do que topar um travessia como essa, o cara participou da viagem exatamente como eu precisava que fosse: sem forçar o barco, e timoneando-o em seus quartos de leme sem deixar o barco bater nas ondas.
Valeu meu camarada!!!! Haverão muitas travessias com o Mystic e já considere-se escalado.
Abração
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Bom amigo a bordo |
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Nas travessias, nas furadas ou nas velejadas memoráveis, parceiro sempre presente. |
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