Olá pessoal,
O Natal e o Reveillon foram ótimos, obrigado, mas infelizmente não posso dizer que o fim de ano e o começo de 2013 foram exatamente do jeito que eu queria. Nós havíamos programado uns dias em Paraty a bordo do MYSTIC, mas acabamos não indo. No dia da viagem o Gustavo passou mal e a Renata deu um jeito na coluna. Some-se a isso o calor record que fez naqueles dias e a prudência fez com que adiássemos, mais uma vez, o passeio. Já 2013 começou mal pra mim. Resumindo: um descuido, um escorregão e pronto! Seis semanas de molho com a mão engessada, consequência de uma fratura no 5º metacarpo.
Na impossibilidade de sequer poder guiar até Angra pra ver o barco, vou ocupar meu tempo tentando escrever artigos baseados em experiências vividas e outros relacionados ao nosso esporte.
Quando navegamos muito e durante muito tempo em um mesmo lugar, é natural que venha o desejo de ampliar nossos horizontes, testar nossos conhecimentos e nossa capacidade de enfrentar esse marzão.
Apesar das minhas primeiras travessias Rio x Angra x Rio terem acontecido no primeiro ano da minha vida de velejador, a verdade é que eu era, então, um mero inexperiente tripulante.
Só vim comandar um barco meu "lá fora" talvez uns 5 ou 6 anos mais tarde, depois de muito regatear aqui nas águas da Baía de Guanabara. Eu já tinha, então, o desejo latente de me por a prova e de visitar novos lugares a bordo da minha "casa" flutuante.
Com certeza estou longe de ser um velejador experiente em travessias, já que a maioria esmagadora delas foi aqui pro lado, Angra dos Reis, mas pelo menos essa, me sinto bastante à vontade pra conversar.
Eu gosto de começar a preparar minhas travessias com uns 10 dias de antecedência. Claro que isso considerando que o barco está apto a empreender tal viagem. Sempre vou conferindo alguns sites de previsão de tempo ao longo dos dias que antecedem a partida, checando vento e mar. Levo em consideração a fase da Lua e gosto muito de comparar tudo isso com as cartas sinóticas. Os mais de 20 anos de prática do surfe também me ajudam a compreender o padrão climático do momento e isso também é importante.
A viagem Rio x Angra x Rio é bastante peculiar. Todo o trecho é navegado no sentido E - W - E e praticamente não existem abrigos contra mau tempo. Não obstante este ser um trecho da costa brasileira onde não venta tanto assim e o mar costuma ser mais clemente, não se deve facilitar e escolher, inclusive, a melhor hora de zarpar.
Para efeito de análise, vamos dividir o percurso em 2 trechos: Um entre a Baía de Guanabara e a Ilha de Guaratiba e o outro composto pela Restinga de Marambaia. Na Restinga existe uma corrente que corre talvez umas 5 MN afastada da costa e normalmente no sentido E-W. Na hora de programar a rota, é bom levar essa informação em consideração, de forma a maximizar o desempenho do barco, aproveitando-a, ou desviando dela. O mar ali também costuma ser mais alto e mais agitado. Em compensação, acho que venta mais.
Para quem gosta de passar por ali de noite, navegando no visual, vai uma importante dica: a Restinga é muito baixa, quase ao nível do mar. Então, cuidado ao regular seu afastamento da costa através da observação da claridade das cidades litorâneas. A luminosidade que se vê ali na Restinga são de cidades que estão na outra extremidade da Baía de Sepetiba, umas 5 MN pra dentro e te dão a sensação de estar navegando muito afastado da costa, quando, na verdade você pode estar a poucos metros da praia.
Pra quem vai de Angra pro Rio, num dia de mar baixo, mas enfrentando o implacável (e tradicional) vento E, no cantinho da praia de Guaratiba existe o único abrigo que conheço. Se fundear bem perto da praia, junto a umas embarcações de pescadores que tem ali, é possível se esconder do vento e descansar um pouco, enquanto se aguarda o vento dar uma amainada.
Por falar em pescadores, vai uma consideração um tanto polêmica. O litoral do Rio até Angra é bastante frequentado por pesqueiros e traineiras e, como em qualquer lugar da sociedade, existem os bons e os maus pescadores. Já ouvi, mais de uma vez, histórias de traineiras abalroando veleiros na calada da noite, de maneira suspeita. Pescadores, em sua esmagadora maioria, são amigos bastante solidários no mar, mas não custa se prevenir, mantendo-se afastado deles durante a noite, até porque é grande a possibilidade de estarem arrastando redes e a última coisa que se pode querer no mar é ficar preso em uma.
Outra dica interessante é procurar navegar umas 2 ou 3 MN distante dos costões onde, invariavelmente, o mar é bem mais mexido, deixando a navegação ali bastante desconfortável. O trecho entre a Baía de Guanabara e Guaratiba tem vários deles. As ondas arrebentam nas pedras e se refletem, voltando mar adentro, onde se chocarão com outras que estão chegando e formando, assim, um desconfortável rebojo.
Eu costumo fazer minhas travessias durante a noite. Isto porque o mar é menos mexido pelo vento. Esta condição ocorre porque durante o dia o vento sopra do mar para a terra (o famoso maral), levantando aquelas inconvenientes marolas. Já durante a noite, com a inversão térmica, o vento passa a soprar da terra pro mar. Ora, como navegamos próximo à costa, não há pista para o terral levantar o mar, deixando a travessia bem mais confortável.
Nas travessias, minha tripulação é composta, invariavelmente, por pelo menos mais uma pessoa que, caso eu me acidente ou mesmo passe mal, seja capaz de conduzir o barco em segurança até um porto seguro.
Por fim, como diz o ditado popular, "quem tem amigo não morre pagão", sempre quando parto para uma travessia, principalmente de noite, costumo ter algum amigo "ligado", pra quem mando mensagens de tempos em tempos, reportando localização e condições naquele momento. Se acontecer algo, talvez esse expediente possa ajudar numa localização mais rápida.
Bem, as mal escritas linhas acima estão longe de encerrarem o assunto e, com certeza, devo ter esquecido de algo. Também, são considerações que funcionam satisfatoriamente pra mim, mas que podem soar como futilidades para outros. A intenção é enriquecer o debate com minha limitada experiência, da mesma forma que ficarei grato por críticas (as construtivas, por favor), sugestões e contribuições.
Bons Ventos.
Ilha Grande ao fundo, em mais uma bela travessia |
Só vim comandar um barco meu "lá fora" talvez uns 5 ou 6 anos mais tarde, depois de muito regatear aqui nas águas da Baía de Guanabara. Eu já tinha, então, o desejo latente de me por a prova e de visitar novos lugares a bordo da minha "casa" flutuante.
Com certeza estou longe de ser um velejador experiente em travessias, já que a maioria esmagadora delas foi aqui pro lado, Angra dos Reis, mas pelo menos essa, me sinto bastante à vontade pra conversar.
Eu gosto de começar a preparar minhas travessias com uns 10 dias de antecedência. Claro que isso considerando que o barco está apto a empreender tal viagem. Sempre vou conferindo alguns sites de previsão de tempo ao longo dos dias que antecedem a partida, checando vento e mar. Levo em consideração a fase da Lua e gosto muito de comparar tudo isso com as cartas sinóticas. Os mais de 20 anos de prática do surfe também me ajudam a compreender o padrão climático do momento e isso também é importante.
Quintal de casa |
A viagem Rio x Angra x Rio é bastante peculiar. Todo o trecho é navegado no sentido E - W - E e praticamente não existem abrigos contra mau tempo. Não obstante este ser um trecho da costa brasileira onde não venta tanto assim e o mar costuma ser mais clemente, não se deve facilitar e escolher, inclusive, a melhor hora de zarpar.
Para efeito de análise, vamos dividir o percurso em 2 trechos: Um entre a Baía de Guanabara e a Ilha de Guaratiba e o outro composto pela Restinga de Marambaia. Na Restinga existe uma corrente que corre talvez umas 5 MN afastada da costa e normalmente no sentido E-W. Na hora de programar a rota, é bom levar essa informação em consideração, de forma a maximizar o desempenho do barco, aproveitando-a, ou desviando dela. O mar ali também costuma ser mais alto e mais agitado. Em compensação, acho que venta mais.
Para quem gosta de passar por ali de noite, navegando no visual, vai uma importante dica: a Restinga é muito baixa, quase ao nível do mar. Então, cuidado ao regular seu afastamento da costa através da observação da claridade das cidades litorâneas. A luminosidade que se vê ali na Restinga são de cidades que estão na outra extremidade da Baía de Sepetiba, umas 5 MN pra dentro e te dão a sensação de estar navegando muito afastado da costa, quando, na verdade você pode estar a poucos metros da praia.
Pra quem vai de Angra pro Rio, num dia de mar baixo, mas enfrentando o implacável (e tradicional) vento E, no cantinho da praia de Guaratiba existe o único abrigo que conheço. Se fundear bem perto da praia, junto a umas embarcações de pescadores que tem ali, é possível se esconder do vento e descansar um pouco, enquanto se aguarda o vento dar uma amainada.
Quebra galho para os dias de Lestada |
Por falar em pescadores, vai uma consideração um tanto polêmica. O litoral do Rio até Angra é bastante frequentado por pesqueiros e traineiras e, como em qualquer lugar da sociedade, existem os bons e os maus pescadores. Já ouvi, mais de uma vez, histórias de traineiras abalroando veleiros na calada da noite, de maneira suspeita. Pescadores, em sua esmagadora maioria, são amigos bastante solidários no mar, mas não custa se prevenir, mantendo-se afastado deles durante a noite, até porque é grande a possibilidade de estarem arrastando redes e a última coisa que se pode querer no mar é ficar preso em uma.
Outra dica interessante é procurar navegar umas 2 ou 3 MN distante dos costões onde, invariavelmente, o mar é bem mais mexido, deixando a navegação ali bastante desconfortável. O trecho entre a Baía de Guanabara e Guaratiba tem vários deles. As ondas arrebentam nas pedras e se refletem, voltando mar adentro, onde se chocarão com outras que estão chegando e formando, assim, um desconfortável rebojo.
Paisagens surreais e momentos inesquecíveis |
Nas travessias, minha tripulação é composta, invariavelmente, por pelo menos mais uma pessoa que, caso eu me acidente ou mesmo passe mal, seja capaz de conduzir o barco em segurança até um porto seguro.
Por fim, como diz o ditado popular, "quem tem amigo não morre pagão", sempre quando parto para uma travessia, principalmente de noite, costumo ter algum amigo "ligado", pra quem mando mensagens de tempos em tempos, reportando localização e condições naquele momento. Se acontecer algo, talvez esse expediente possa ajudar numa localização mais rápida.
Bem, as mal escritas linhas acima estão longe de encerrarem o assunto e, com certeza, devo ter esquecido de algo. Também, são considerações que funcionam satisfatoriamente pra mim, mas que podem soar como futilidades para outros. A intenção é enriquecer o debate com minha limitada experiência, da mesma forma que ficarei grato por críticas (as construtivas, por favor), sugestões e contribuições.
Bons Ventos.