Fazia mais de 1 mês que o MYSTIC não recebia a nossa visita e isso vinha me incomodando, afinal, o que estraga um barco não é o seu uso e sim, a falta dele. Os compromissos intermináveis de uma família que tem um filho pequeno acabam dificultando um pouco nossas idas à Angra.
Nesse final de semana tínhamos um evento da creche do Gustavo e o tempo também estava meio "engonhado". Isso estava me deixando desanimado para viajar, mas o Ulisses (veleiro Coronado) - meu parceiro de sempre, botou uma pilha para um encontro do MYSTIC com o Coronado em alguma enseada da Ilha Grande e, também sentindo que a galera da creche estava meio desanimada para o tal evento, não foi difícil decidir partir pra Angra.
Nas últimas vezes em que fomos pra Angra dos Reis, nosso destino foi o Sítio Forte - ou pro Bar do Lelé, ou para a praia ao lado (Tapera), para o Bar da Telma. Além de ser a parte da Ilha Grande que eu mais gosto, definitivamente nos é o mais prático, em termos de logística para o nosso pequeno. Apesar dessa praticidade toda, eu já estava incomodado com a possibilidade de visitar tantas outras enseadas que a Ilha nos oferece e nós sempre rumando para o Sítio Forte. Decidimos então, dessa vez, visitar o Bar do Cadiquinho, com sua excelente culinária, localização intimamente ligada à natureza (fica dentro de um mangue) e o ambiente acolhedor à comunidade velejadora. Sendo assim, a proa do MYSTIC apontaria mais para SE, com destino ao Saco do Céu.
Já em Angra, após o tradicional ritual, de chegar ao clube, dar almoço pro Gustavo e preparar o barco, icei as velas para zarpar. Ao abrir a capa da mestra, para minha surpresa, dois ninhos de passarinho - um deles com dois ovinhos cairam no convés do MYSTIC. Os ovos não se quebraram, mas o estrago já estava feito: eu havia tirado o ninho de um ponto que não percebi e mexi nos ovinhos. Naquele momento fiquei muito triste em destruir duas pequenas vidas. Precisou a Renata me chamar à razão e me lembrar que esta é a ordem natural da vida. Que algumas vidas se perdem e outras florescem. Que poderia ser algum predador roubando violentamente os ovos da mamãe passarinho ou coisa pior. Engoli a tristeza e ofereci aquelas pequenas vidas ao mar.
Partimos do clube com a mestra rizada e a genoa 100%, pois o Ulisses havia ligado avisando que ventava um W acima de 15 nós no canal entre a Ponta Leste e a Ilha dos Macacos. Como estava com o Gustavo a bordo e tocando o barco sozinho (a Renata fica full time de olho nele e estava sem o Jarbas - nosso piloto autoático), essa foi a providência mais prudente que tomei.
Ao sair da baía do Porto de Angra, medi um vento de 16,4 knots. Como ele entrava de alheta nas velas do MYSTIC, icei completamente a mestra e segui viagem. Mesmo com os panos todos em cima, o barco permanecia estável, mas seu desempenho estava pífio, por causa das cracas no casco, além de estarmos rebocando um botinho. Devido ao adiantado da hora e o desejo de não chegar de noite no Saco do Céu, liguei o motor em marcha lenta para ajudar o velejo.
|
Ilha Saracura |
Quase na Ponta Leste, em frente à Ilha Saracura, encontramos o Coronado e seguimos lado a lado, tirando fotos e filmando nossos barcos. Foi uma velejada gostosa, com um clima bastante agradável. Adentramos o Saco do Céu com a tarde caindo e cada um pegou uma poita em frente à foz de um riacho, onde um pouco acima fica o restaurante do Cadiquinho.
Imediatamente surgiu um bote de fibra para nos buscar, direto das entranhas do mangue. O traslado para o retaurante foi um passeio a parte, onde avistamos pequenos caranguejos e algumas aves. O legal foi perceber a preocupação do Cadiquinho com a preservação daquela área. O piloto manobrava o barco com cuidado e vi algumas placas avisando que ali era área de preservação.
|
O mangue, visto da mesa do restaurante do Cadiquinho |
Já no restaurante, enquanto o Gustavo corria pra lá e pra cá, tivemos a companhia do Cadiquinho em nossa mesa e, entre uma cerveja e outra, nos deliciamos com um polvo ao vinagrete ofertado pela casa. Nosso almojanta foi uma bela moqueca que, como sempre, estava uma delícia.
|
Fim de noite no cockpit do MYSTIC |
Mais tarde, após um papo pra lá de animado, voltamos nós e a turma do Coronado para o MYSTIC onde ainda estendemos nossa conversa até mais tarde, quando o sono já falava alto. Fomos dormir ao som de uma leve chuva que caiu durante a noite e que ajudou a refrescar o calor que mesmo de noite, não diminuia.
O domingo amanheceu ensolarado e sem vento. Logo após o café da manhã oferecido a bordo do MYSTIC, pulei na água com meu pequeno e pela primeira vez em nossas vidas, nadamos juntos e brincamos no mar, com o Gustavo completamente solto. Esses momentos são uma dádiva de Deus. Como se não bastasse a alegria de ter um filho como o que tenho, tê-lo brincando comigo no ambiente que mais gosto (o mar) e ao lado do meu barco, é impagável!!!
|
Momento impagável |
Após o lazer, ainda aproveitei a ajuda do Ulisses e raspamos o fundo do MYSTIC, que não tinha cracas, mas estava cheio de uma vegetação meio esponjosa e que saía facilmente com a espátula.
Deixamoso Saco do Céu a motor, com o céu ficando um pouco nublado e uma leve brisa de E/SE soprando. O Coronado tomou seu caminho de casa, rumo ao Portogalo e nós, próximo do TBIG (Terminal da Petrobras na Ponta Leste), cortamos máquina e velejamos de asa de pombo até a entrada do Porto de Angra, quando iniciei a faina de guardar tudo para não perder tempo na poita com arrumação.
|
Velejando de volta pra casa |
Tão logo amarrei o MYSTIC em sua poita, as mamães passarinhos começaram a sobrevoar a retranca do barco em busca de seus ninhos. Uma até tentou entrar por dentro da capa, mas nossa presença a espantou. Confesso que meus olhos marejados e olhava pro Gustavo e pensava no amor que sinto por ele...
Mais um final de semana se acabava, porém as boas recordações e as emoções que vivi ainda durarão mais um tempo para se apagarem. Talvez o tempo suficiente para voltarmos para aquele paraíso e vivermos nossa aventura a bordo do MYSTIC.
Até a próxima!!!
|
Ulisses, filmando e fotografando o MYSTIC |
|
MYSTIC e Coronado, nas poitas do restaurante do Cadiquinho |
|
MYSTIC, no Saco do Céu |
|
Desde perqueno, se divertindo dentro de barco |
|
Pico do Papagaio, visto de outro ângulo |
|
Comandante, curtindo a velejada |