domingo, 15 de janeiro de 2012

A PRIMEIRA TRAVESSIA A GENTE NUNCA ESQUECE

"Um homem precisa viajar. Por sua conta, não por meio de histórias, imagens, livros ou TV. Precisa viajar por si, com seus olhos e pés, para entender o que é seu. Para um dia plantar as suas árvores e dar-lhes valor. Conhecer o frio para desfrutar o calor. E o oposto. Sentir a distância e o desabrigo para estar bem sob o próprio teto. Um homem precisa viajar para lugares que não conhece para quebrar essa arrogância que nos faz ver o mundo como o imaginamos, e não simplesmente como é ou pode ser; que nos faz professores e doutores do que não vimos, quando deveríamos ser alunos, e simplesmente ir ver."

Amyr Klink

Eu estava lá!!! E pude ver, eu mesmo, como é bonito o nascer do dia no mar.

O GRANDE DIA

Era 00h30min da madrugada de sábado (14/01) quando, finalmente, o MYSTIC deixou sua poita em Niterói rumo à Angra. Durante aqueles primeiros minutos da travessia que apenas havia começado, vi passar um filme em minha mente, desde a compra daquele veleiro abandonado na Marina da Glória, até aquele momento: todas as dificuldades com documentação, motor, disponibilidade de tempo para fazer o que tinha que ser feito, ...

O começo, um pouco tenso pela incerteza de que tudo correria bem pelas próximas 75 MN até o clube Marinas, em Angra, logo foi tomado pelo prazer e pela sensação indescritível de vitória ao olhar para aquela luz de navegação agora acesa, ao ronco suave e sem vacilos do motor e principalmente a cada rajada que empurrou o barco mar afora até seu destino.

A TRAVESSIA

MYSTIC rumando à escuridão do mar aberto

Passei a semana acompanhando e conversando com amigos sobre a previsão do tempo e do mar para a travessia. Não poderia ser melhor: mar calmo a favor e ventos do quadrante de N.

Para essa empreitada estava muito bem acompanhado do meu parceiro de sempre nas travessias, o Ulisses do veleiro Coronado (www.aventurasdocoronado.blogspot.com). Eu havia convidado outros amigos para a tripulação, mas infelizmente as desistências foram ocorrendo, principalmente pela dificuldade de conciliar a agenda de todos com a data da travessia.

Zarpamos do PCSF a motor, pois não havia vento dentro da Baía de Guanabara naquele momento. A maré ainda vazava, o que facilitou nossa saída da barra. Como sempre fazemos, já saímos com o grande içado para estabilizar o barco, mas não sem antes passar as forras de rizo, pois nunca sabemos o que teremos pela frente.
Ulisses "pagando" seu quarto de leme

Quando navegávamos já no través da praia do Leblon, começou a soprar uma brisa de N suficiente para desligarmos o motor. Não demorou muito e o vento refrescou, obrigando-nos a tomar uma forra na mestra. Como era o primeiro grande teste do MYSTIC, era madrugada e ainda havia muito mar pela frente, resolvemos adotar uma postura mais conservadora e decidimos rizar direto para a segunda forra. A genoa era uma 100% e não foi necessário diminuí-la. O barco, com o equilíbrio mantido, continuou velejando próximo dos 6 nós.

Nossa alegria não durou muito tempo, pois o vento logo minguou e tivemos que ligar o motor novamente. Seguimos com máquina numa média de velocidade de 5,5 nós, o que dava uma excelente previsão de chegada na Ilha Grande, por volta de 12h de sábado.

Algum tempo depois, navegando ao largo da praia da Barra da Tijuca, o vento N voltou a soprar com vontade. Nós prontamente abrimos a genoa e desligamos o motor. O MYSTIC novamente velejava, mantendo a média de velocidade sempre perto dos 6 nós. Pena que mais uma vez o vento não demorou muito e enfraqueceu. Para mim, isso não era mais problema algum, pois já confiava no motor e sem perder tempo, acionei o Control 48HP que equipa o MYSTIC e seguimos viagem.

O comandante, rindo à toa

 Já navegávamos na altura da Ilha de Guaratiba, entrando nas águas da bela Restinga da Marambaia, quando o vento N voltou a soprar. Mais uma vez abrimos os panos e cortamos o motor.

Até aquele momento tudo estava dando certo e a cada milha navgada, ganhava mais con fiança no barquinho. Éolo, então, resolveu botar o MYSTIC (e os nervos do comandante) à prova: o vento começou a soprar mais forte e cada vez aumentava mais. Honestamente, ... de forma conservadora, estimamos uns 20 nós constantes e algumas rajadas, talvez na casa dos 25 nós. Nesses momentos é que é bom se ter uma tripulação safa e de confiança. Não precisamos trocar mais do que duas palavras e mudamos a configuração do barco para poupá-lo de maiores esforços, afinal, nunca é demais lembrar que aquele era o primeiro teste de verdade do MYSTIC e o estaiamento, apesar do ótimo aspecto de bem conservado, tem pelo menos 7 anos.

Segurança acima de tudo
Com a mestra mantida na 2ª forra de rizo desde a primeira velejada da noite, enrolamos metade da genoa, regulamos a posição dos carrinhos da escota e soltamos um pouco o burro da mestra. O vento ainda era través, mas o mar ficou um pouco picado e passou a molhar o convés.

A tocada do barco também mudou, de forma a não forçar o leme e também defender a tripulação daquelas marolas mais salientes que insistiam em molhar o convés. A velocidade caiu e o MYSTIC passou a velejar na faixa dos 4,8 nós de média.

Algum tempo depois, o vento amenizou e simplesmente abrimos a genoa. A velocidade foi mantida e a velejada continuou prazeroza.

O vento se manteve constante durante toda a manhã, o que nos permitiu atravessar toda a Restinga da Marambaia velejando.

Como sempre, cruzamos com alguns pesqueiros, principalmente aqueles com seus grandes (e assustadores) braços abertos, puxando redes de arrasto. Cruzamos também, com 2 rebocadores puxando uma balsa com um enorme guindaste em seu convés. Ficou a curiosidade de saber como eles se viraram na hora do vento.

Já estávamos próximos do fim da Restinga quando o vento voltou a apertar. Dessa vez soprou ainda com mais força - cerca de uns 25 nós constantes e um pouco mais (bem mais) nas rajadas. Novamente enrolamos parcialmente a genoa e seguimos com cautela, afinal, estávamos terminando nossa travessia e não queríamos que algo desse errado, justamente ali. Negociamos com o vento e as ondas e assim chegamos à entrada da Baía da Ilha Grande.

Como aquela região tem um microclima bastante peculiar, ainda na entrada da Baía o vento acabou para não mais voltar. Pela última vez acionamos o já confiável motor do MYSTIC e seguimos viagem.

Já passava de 14h e o sol estava escaldante. Some-se a isso a falta de vento e assim conclua o tamanho do calor que fazia debaixo do bímini do MYSTIC. Olhando para aquela água azul magnífica, não nos restou outra alternativa senão fazer um pit stop no meio do canal e dar um merecido mergulho, afinal estava realizando um sonho que vinha acalentando fazia alguns meses e aquele era momento de comemoração.

Finalmente seguimos nossa viagem rumo ao ARMC, onde fomos muito bem recebidos e deixamos meu querido MYSTIC em seu novo lar. Que ele descanse bastante, pois a partir de agora, as aventuras vão começar!!! (rs)

Bons Ventos e até a próxima!!!



Dia nascendo e o maciço da Gávea ao fundo

Sol e vento generoso

Desempenho honesto

Terra a vista!!!! O MYSTIC e a Ilha Grande ao fundo

Laje da Marambaia

As águas da Baía da Ilha Grande acariciando e dando boas vindas ao MYSTIC

Comandante

O novo lar do MYSTIC
MYSTIC no ARMC

4 comentários:

  1. Olha o sorriso do cara. Vai demorar a sumir. Parabéns Lauro. Edson

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  2. O Mystic ficou muito bonito e esta região de Angra nem se fala, é maravilhosa.

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  3. Parabéns. O Mystic ficou lindo. Quem viu e quem vê... nem dá nem para acreditar. Fico feliz que deu tudo certo com o motor, a despeito de todos os contratempos. Que bom o Mystic morar uma temporada em Angra. Quem sabe a gente se encontra por lá, pois também estou com o barco morando no Piratas. Grande abraço.

    Luiz (Berro D'agua)

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    1. É muito gratificante ler depoimentos de pessoas como você, que acompanharam a história desde o início, que me ajudaram a resolver os obstáculos e que agora compartilham minha alegria de vê-lo velejando novamente.
      O MYSTIC é seu vizinho em Angra. Está no clube Marinas (ARMC), ao lado do Pirata's.
      Certamente nos encontraremos por lá.

      Abraço,

      Lauro

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